
Nos últimos tempos, o “jogo do tigrinho”, nome popular dado ao Fortune Tiger, se tornou um verdadeiro fenômeno no Brasil. Com promessas de ganhos rápidos e acessibilidade digital, esse tipo de jogo de azar tem ganhado cada vez mais espaço — e já impacta diretamente o mercado de games tradicional. Mas afinal, como isso afeta a indústria e os hábitos dos jogadores brasileiros?
Durante a Gamescom Latam 2025, o assunto foi destaque entre especialistas da área, que discutiram as mudanças no perfil do jogador digital e os desafios trazidos por esse novo segmento.
Uma nova definição de jogador digital
Segundo a Pesquisa Game Brasil 2025, 82,8% da população brasileira joga algum tipo de game digital — um crescimento de quase 9% em relação ao ano anterior. Dentro desse universo, 38,2% afirmam jogar os chamados “jogos recreativos de sorte”, como o Fortune Tiger.
Esse dado é revelador. Ele mostra que uma parcela significativa do público gamer está sendo atraída por jogos de aposta. E, mesmo que esses títulos não se encaixem no modelo tradicional de videogames, eles estão inseridos no mesmo ecossistema digital. Como destacou Carlos Silva, CEO da Go Gamers, é necessário entender esse novo público. “Eles fazem parte do mercado, mesmo que tenham comportamentos diferentes dos jogadores clássicos”, afirmou.
O apelo financeiro e o risco da generalização
Boa parte da popularidade desses jogos vem do apelo financeiro: a promessa de ganhar dinheiro fácil em poucos cliques. Isso atrai principalmente pessoas de classes sociais mais baixas, que enxergam nessas plataformas uma oportunidade rápida de renda.
O problema é que isso pode distorcer a visão que o público e os órgãos reguladores têm sobre a indústria de games como um todo. Rodrigo Terra, presidente da Abragames, alertou que é preciso separar muito bem o que são jogos de azar e o que são jogos digitais desenvolvidos para entretenimento, narrativa e imersão. “O risco está na confusão. Isso pode prejudicar o setor como um todo se forem criadas legislações equivocadas”, comentou.
Jogos de azar não substituem o videogame tradicional
Apesar do crescimento dos jogos de azar digitais, especialistas garantem que eles não devem substituir os games tradicionais. Carlos Silva reforça que o vínculo emocional com franquias clássicas e a experiência imersiva que os videogames oferecem são insubstituíveis. “O jogador que ama uma franquia, que tem conexão com um jogo, não vai trocar isso por uma roleta digital”, disse.
Por outro lado, o público mais casual pode sim optar por experiências mais rápidas, simples e com promessas de retorno financeiro — e é esse o nicho que os jogos como o do tigrinho têm conquistado.
O futuro: regulamentação e responsabilidade
Com a ascensão desses jogos, a regulamentação se tornou um dos temas centrais para o futuro da indústria. Há a possibilidade de que, com regras mais claras, esse mercado mude drasticamente — seja por meio de controle mais rígido, seja pela reconfiguração de seu modelo de negócio.
“O crescimento pode ser passageiro, ou pode se consolidar. Só o tempo — e a legislação — vão dizer”, conclui Silva.
Conclusão
O jogo do tigrinho não é apenas uma moda passageira: ele revela mudanças importantes nos hábitos de consumo digital dos brasileiros. Embora traga novas possibilidades, ele também acende alertas quanto à regulamentação, à segurança dos usuários e à preservação do mercado gamer como o conhecemos. Para desenvolvedores, empresas e jogadores, o momento é de atenção e reflexão sobre os rumos que o setor deve tomar.
